Aproveitando-se do espírito de que se vive hoje no Brasil um estado policial (ao invés de democrático), tramita no Senado Federal um substitutivo de projeto de lei (a imprensa ainda não divulgou o nome do autor do projeto) que institui o Regime Especial de Regularização Cambial e Tributária (RERCT), que dará aos contribuintes brasileiros 120 dias para efetuar tais regularizações a um custo de 35% de Imposto de Renda mais multa, mais o IOF e outros tributos (se aplicável).
Aprovada a lei pelo Congresso, a Receita Federal terá 90 dias para regulamentar o processo como um todo. Não é previsto a princípio a obrigatoriedade de repatriar os bens havidos no exterior, mas sim passar a declará-los na declaração anual de ajuste do Imposto de Renda.
Troca de informações com os Estados Unidos
O grande motivador de referido projeto de lei, que deve ter sido o originalmente proposto de anistia fiscal que já tramitava no Senado federal para mais de três anos, é a assinatura de adesão do Brasil ao FATCA norte-americano, que, segundo diz a imprensa brasileira, propiciará a troca das informações enviadas semestralmente pelos bancos à Receita Federal. A Receita Federal também encaminhará tais informações à Receita Federal norte-americana (IRS) que terá a obrigação, já que o acordo é de reciprocidade, de também enviar à Receita Federal do Brasil a relação dos brasileiros que tenham conta corrente nos Estados Unidos da América.
O medo seria a principal atração
Ou seja, o medo seria a principal atração para que brasileiros com ativos no exterior entreguem 40% (IR mais multa e mais IOF) destes recursos para o governo brasileiro continuar com a farra de gastar acima do que arrecada. Só pode ser mesmo hox de Internet!
Já foi criado inclusive um Fundo de Desenvolvimento Regional e Auxílio a Convergência que são a base do Projeto de Reforma do ICMS para receber os volumosos recursos arrecadados pelo imposto mais as multas da regularização.
Estima-se que novos recursos cheguem a R$ 150 bilhões
Estima-se que a arrecadação deste imposto e multas poderão chegar de R$ 100 bilhões a R$ 150 bilhões, pois dados revelam (não dizem quem revela e que dados são esses) que devem existir cerca de R$ 400 bilhões de ativos de brasileiros não declarados à Receita Federal.
Para separar a evasão fiscal dos outros crimes muito em moda hoje em dia (lavagem de dinheiro, evasão de divisas, financiamento a terrorismo etc.) a Lei irá passar ao sistema financeiro a responsabilidade de separar o joio do trigo, ou seja, dinheiro de origem boa e dinheiro de origem ilícita. Segundo sugere o referido substitutivo, o sistema financeiro ficará encarregado de identificar os titulares da repatriação do controle prévio sobre a origem dos ativos e confiabilidade das documentações exigidas. A troco de que as instituições financeiras passariam a ter esta responsabilidade de graça?
Proposta de lei não pode ser levada a sério
Realmente vivemos um momento único no Brasil. Aparentemente espera-se que um projeto de lei deste tipo passe tranquilamente pela aprovação no Congresso Nacional e que as ovelhas brasileiras entregarão 35% de sua lã para não serem abatidas mais na frente pela Receita Federal.
Embora eu concorde que o Brasil deveria, sim, desenvolver uma lei que desse a oportunidade de os brasileiros com recursos no exterior declararem ou repatriarem estes recursos, não se pode acreditar que uma proposta de lei deste tipo, onde o contribuinte entregará 40% dos recursos para que o governo possa continuar com a gastança, deva ser efetivamente levado a sério por aqueles que tenham ativos relevantes no exterior. Será muito mais barato simplesmente mudar para Portugal ou Uruguai.
Bancos checariam origem de recursos
Na proposta divulgada pela imprensa, ativos de até R$ 10.000, ao dólar de 31/12/2013, ficarão isentos da declaração e da multa de 100% e os bancos deverão obedecer ao procedimento de checar a origem do recurso e todo o processo sempre que o montante regularizado ultrapassar U$ 50.000.
Parece brincadeira e deve realmente ser, pois não se concebe uma legislação deste tipo num momento em que o país precisa de ideias e iniciativas boas e criativas para mudar o quadro recessivo em que estamos afundando. Certamente uma legislação deste tipo afugentará ainda mais quem pode ter a opção de ir embora até que as coisas mudem por aqui.
Seria muito mais útil ao país se enviássemos o Senado todo a Portugal para que o mesmo aprendesse e entendesse o que fez a legislação de Portugal para atrair investimentos e tirar o país da situação recessiva em que se encontrava.