terça-feira, 23 de janeiro de 2024

Defasagem do Imposto de Renda penaliza ainda mais a classe média brasileira


Tomando por base a inflação oficial brasileira, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que foi de 4,62% em 2023, o Sindifisco Nacional (Sindicato dos Auditores-Fiscais da Receita Federal) calculou a defasagem média da tabela do Imposto de Renda de Pessoa Física (IRPF) em 149,56%, levando em consideração os resíduos acumulados desde 1996 (ano do fim do reajuste automático).

Os dados do Sindifisco Nacional apontam que defasagem do Imposto de Renda, que funciona como um aumento “disfarçado” de tributação, passou de 146% para 134% na faixa isenta - beneficiando os contribuintes de renda mais baixa, aumentando, porém, para 159,5% para as rendas mais elevadas, que ficaram sem reajuste no ano passado.

A regra adotada pelo governo no ano passado elevou a faixa de isenção para R$ 2.112, com um desconto mensal de R$ 528 do Imposto de Renda na Fonte. Com isso, quem ganha até R$ 2.640 (o valor de dois salários-mínimos à época) deixou de pagar IRRF.

Os contribuintes situados nas demais faixas de cobrança foram beneficiados apenas de forma residual pelo reajuste na isenção, já que não tiveram seus valores de tributação atualizados.

Os auditores da Receita calculam que a correção “média” da tabela do IR tenha sido de 4,15% no ano passado, ante uma inflação de 4,62%, medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo).

Pelas contas da Unafisco, portanto, a defasagem da tabela do imposto de renda agora chega a 134% na faixa de isenção e 159,57% nas demais faixas, considerando o período de 1996 a 2023.

Nos últimos 27 anos (desde 1996, quando a tabela foi convertida para reais), em apenas cinco anos a correção superou o índice de preços oficial do País, o IPCA. De 2016 a 2022 – durante os governos Michel Temer e Jair Bolsonaro – a correção ficou congelada.

Nesses quase 30 anos, segundo o estudo do Sindifisco Nacional, o IPCA variou 444% contra reajustes de 118%, resultando em uma defasagem de cerca de 150%.

Em 1996, a isenção beneficiava quem recebia até nove salários-mínimos. Essa relação despencou para 1,57 em 2022 e, após a correção realizada em 2023, subiu levemente para 1,60. Se fosse totalmente corrigida, a faixa isenta saltaria de R$ 2.112 para R$ 4.899, o que faria com que outros milhões de contribuintes deixassem de pagar o tributo mensalmente.

Uma correção dessa magnitude, no entanto, geraria uma renúncia fiscal de R$ 135,8 bilhões, segundo cálculos dos auditores.