sábado, 10 de fevereiro de 2024

Arrecadação federal encerra ano de 2023 com leve queda em relação a 2022

Ao que tudo indica a equação – “aumentar impostos para arrecadar mais” – implementada pelo governo petista em 2023 não atingiu a meta desejada.

A arrecadação tributária federal encerrou o ano de 2023 aquém do que almejava o governo sobretudo para cobrir déficits orçamentários da União, registrando uma leve queda de 0,12% em termos reais (descontada a inflação, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo — IPCA), em comparação com 2022.

Em termos nominais a preços correntes, sem descontar a inflação no período, pelos cálculos anunciados pela Receita Federal no dia 23/01/2024, a arrecadação total das receitas federais alcançou R$ 2,318 trilhões em 2023, com um aumento de 4,49%, em comparação com o total de R$ 2,218 trilhões, em 2022.

Lembro que, em 2022, a arrecadação federal de impostos e contribuições das receitas federais teve aumento real de 8,18%, fechando o ano a R$ 2,218 trilhões, comparado a 2021. Além de bater em 2022 a marca dos R$ 2 trilhões pela primeira vez, os números representaram o melhor desempenho arrecadatório desde 1995, no acumulado anual.

Ora, esse desempenho da arrecadação atesta o que está comprovado nos manuais de políticas fiscais praticadas em todos os países de economia de mercado. Qual seja, a arrecadação aumenta inversamente proporcional à redução de impostos, ao alargar a base de contribuição tributária.

As reduções ou desonerações de tributos implementadas pelo governo Bolsonaro em 2022 foram feitas de maneira pontual, e não de forma estrutural, porém, atingiram seus objetivos, amenizando uma crise que poderia ter tido efeitos devastadores na economia nacional.

A série de reduções de tributos em 2022 foi decidida pelo governo por força dos impactos da guerra da Ucrânia sobre a oferta de matérias primas no mercado internacional. O exemplo mais notório foi a redução das alíquotas de ICMS sobre gasolina e diesel, dois fatores essenciais na economia com forte influência nos preços e inflação.

Bastou, no entanto, o novo governo assumir e cancelar as reduções de ICMS ao longo de 2023 para que o preço do litro da gasolina, que estava em R$ 4,84 por litro, em dezembro de 2022, passasse para R$ 5,87, em fins de dezembro de 2023, conforme registramos em um posto de gasolina de bandeira da Petrobras, localizado em plena movimentada Zona Sul do Rio de Janeiro.

Os números da arrecadação no ano passado demonstram que a equação “aumentar impostos para arrecadar mais” adotada desde então deixou um preço a pagar que foi a estagnação das receitas de impostos federais no ano passado.

O próprio secretário especial da Receita Federal do Brasil, Robinson Barreirinhas, referiu-se a essa evolução da política fiscal nos últimos dois anos, ao anunciar os dados da arrecadação de 2023:

“Chamo atenção para dois fatores. O primeiro é a forte queda do IPI por conta da redução de alíquotas em 2022. Nós herdamos esse benefício dado em 2022, que teve impacto enorme em 2023. A desoneração dos combustíveis também teve um impacto gigantesco, bilionário, que estamos retomando completamente agora, neste exercício.”

“Agora há uma volta a patamares absolutamente normais”, comentou Barreirinhas.

Outros pontos de destaque da arrecadação, segundo a Receita Federal

Já em dezembro de 2023, a arrecadação total das receitas federais foi de R$ 231,225 bilhões, ou seja, alta de 10,01% em termos nominais e elevação de 5,15% em termos reais na comparação com dezembro de 2022 (R$ 210,191 bilhões, em preços correntes).

No acumulado de 2023, as receitas administradas pela RFB somaram R$ 2,204 trilhões (ante R$ 2,085 trilhões, em 2022, resultando em alta real de 1,02%). As receitas administradas por outros órgãos alcançaram R$ 113,686 bilhões (frente R$ 132,505 bilhões, em 2022), considerando preços correntes.

Houve crescimento real de 21,60% na arrecadação do IRRF - Capital (Imposto de Renda Retido na Fonte), em razão de apreciação da taxa Selic. Houve também crescimento real (IPCA) de 3,36% do IRRF—Trabalho e de 5,00% da Contribuição Previdenciária em razão, principalmente, do desempenho da massa salarial. Outro destaque foi a arrecadação de R$ 5,6 bilhões decorrente do programa de redução de litigiosidade da Receita Federal e de R$ 4,4 bilhões advindos do Imposto sobre Exportação incidente sobre o óleo bruto.

Em sentindo inverso, afetaram negativamente o resultado de 2023 as reduções de alíquotas do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados), do PIS/Cofins [Programa de Integração Social / Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social] e da CIDE (Contribuição sobre Intervenção no Domínio Econômico) sobre combustíveis, afetando a arrecadação desses tributos.

Com a redução de alíquotas do IPI, a perda em 2023 foi de R$ 22,8 bilhões; e no PIS/Cofins dos combustíveis, chegou a R$ 32,71 bilhões. No total, os principais fatores não recorrentes e de alterações da legislação geraram impacto negativo de R$ 46,06 bilhões sobre a arrecadação do ano passado.

As compensações tributárias, em dezembro deste ano, somaram R$ 23,843 bilhões (ante R$ 22,312 bilhões, em dezembro do ano passado).