A fim de compensar o subsídio de R$ 9,6 bilhões para cobrir a redução do preço e dos tributos incidentes sobre o diesel, o governo tomou medidas visando elevar a arrecadação de impostos de exportadores, indústria de refrigerantes e indústria química, além de cortes de despesas de estatais em programas de saúde, educação, saneamento básico e moradia.
Para cobrir a conta do “bolsa caminhoneiro”, cujo custo para impedir a continuação da greve e o desabastecimento do País está estimado em até R$ 13,5 bilhões, o Presidente Michel Temer sancionou na quarta-feira (30/05/2018) a lei que prevê a chamada reoneração de setores da economia que deixarão de pagar imposto sobre o faturamento para contribuir sobre a folha de pagamento, gerando um ganho de R$ 4 bilhões aos cofres da União.
Além da sanção da lei de reoneração da folha de pagamento, o governo baixou três medidas provisórias, zerando a Cide sobre o diesel e praticamente acabando a devolução do Reintegra. São 96 páginas de medidas publicadas em edição extra do Diário Oficial da União em 30/05/20018.
A primeira MP revoga incentivos referentes a PIS/Pasep e Cofins para nafta e outros produtos destinados a centrais petroquímicas. A segunda MP dispõe sobre a concessão de subvenção econômica à comercialização de óleo diesel. A terceira MP abre crédito extraordinário em favor dos ministérios de Minas e Energia e da Defesa no valor de R$ 9,58 bilhões, ou seja, para compensar a Petrobrás e garantir a redução de R$ 0,30 no preço do litro do diesel.
O governo ainda cancelou R$ 3,4 bilhões em despesas do Orçamento deste ano.
Veja a seguir as medidas do governo para o bolsa caminhoneiro publicadas em edição extra do Diário Oficial da União em 30/05/20018.
REONERAÇÃO
O presidente vetou a permanência de alguns setores na política de desoneração da folha. Com isso, voltarão a ser reonerados segmentos econômicos como as empresas estratégicas de defesa, empresas de transporte aéreo de carga e de passageiros regular, empresas de serviços auxiliares ao transporte aéreo de carga e de passageiros regular, empresas de manutenção e reparação de aeronaves, empresas de manutenção e reparação de embarcações e as empresas do comércio varejista de calçados e artigos de viagem.
A aprovação do projeto de reoneração da folha de pagamentos vai garantir um impacto positivo nas contas públicas de R$ 830 milhões. O governo fez vetos no número de setores e produtos que manteriam a desoneração da folha. Segundo o secretário da Receita Federal, Jorge Rachid, permaneceram com a desoneração 17 setores. Entre eles, transporte de passeio, construção civil, empresas de comunicação, call center, indústria têxtil, confecções proteína animal, transportes de pessoas, couro, Tecnologia da Informação, transporte rodoviário de cargas, máquinas e equipamentos, fabricação de veículos e carrocerias.
A política de desoneração da folha começou em 2011 e foi lançada pelo governo Dilma Rousseff com o objetivo de estimular a geração de empregos no País e melhorar a competitividade das empresas. O benefício se dá por meio da substituição da cobrança de uma contribuição previdenciária de 20% sobre a folha de pagamento das empresas, por um percentual sobre o faturamento da empresa. Inicialmente a alíquota variou entre 1% e 2%. Hoje, varia entre 1% e 4,5%, dependendo do setor
Setores da economia onde permanece a desoneração (alíquota sobre o faturamento):
- transporte rodoviário de passageiros (alíquota de 2%);
- transporte ferroviário de passageiros (alíquota de 2%);
- transporte metroviário de passageiros (alíquota de 2%);
- construção civil (alíquota de 4,5%);
- obras de infraestrutura (alíquota de 4,5%);
- jornalísticas e de radiodifusão sonora e de sons e imagens (alíquota de 1,5%).
- tecnologia da informação e comunicação (alíquota de 4,5%);
- "call center" (alíquota de 3%);
- projeto de circuitos integrados (alíquota de 4,5%);
- couro (alíquota de 2,5%);
- calçado (alíquota de 1,5%);
- confecção/vestuário (alíquota de 2,5%);
- fabricante de ônibus e de carroceria de ônibus (alíquota de 1,5% para ônibus e de 2,5% para carroceria);
- máquinas e equipamentos industriais (alíquota de 2,5%);
- móveis (alíquota de 2,5%);
- transporte rodoviário de cargas (alíquota de 1,5%);
- proteína animal (1%);
- têxtil (2,5%);
- comércio varejista de calçados e artigos de viagem, enquadrado na Classe CNAE 4782-2 (2,5%).
Setores da economia reonerados:
- Empresas Estratégicas de Defesa (EED) (alíquota de 2,5%);
- indústria ferroviária (2,5%);
- fabricantes de equipamentos médicos e odontológicos (2,5%);
- fabricantes de compressores (2,5%);
- transporte aéreo de carga e de passageiros regular (1,5%);
- serviços auxiliares ao transporte aéreo de carga e de passageiros regular (1,5%);
- empresas editoriais (1,5%);
- manutenção de aeronaves (2,5%);
- construção e reparação naval (2,5%)
REINTEGRA
O Reintegra devolvia 2% do valor exportado em produtos manufaturados através de créditos de PIS/ Cofins. Pelo programa, o governo devolve parte dos tributos pagos por exportadores de produtos industrializados para compensar a redução de tributos federais. Agora o governo reduziu de 2% para 0,1% o crédito aos exportadores, o que gerará recursos de R$ 2,27 bilhões até o final do ano. O programa de incentivo fiscal aos exportadores tem R$ 3,6 bilhões previstos no Orçamento de 2018.
BEBIDAS
A redução da alíquota de IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) sobre concentrados de refrigerantes de 20% para 4% permitirá um ganho de R$ 740 milhões até o final do ano. Isso porque os fabricantes gerarão menos créditos para abaterem impostos.
Trata-se de redução do incentivo tributário para concentrados de bebidas que são produzidos na Zona Franca de Manaus e que servem de base para a produção de refrigerantes.
INDÚSTRIA QUÍMICA
O governo também revogou o chamado Regime Especial da Indústria Química (Reiq), benefício de crédito presumido na exportação, que rende mais R$ 170 milhões aos cofres públicos em 2018. A revogação, porém, só acontecerá dentro de 90 dias, pois há a chamada noventena. A medida garante uma economia de R$ 170 milhões.
O fim do incentivo aos exportadores e de benefícios à indústria de bebidas e química economizam R$ 4 bilhões aos cofres públicos e serão usados para reduzir em R$ 0,16 a tributação da Cide/PIS/Cofins do litro do diesel.
CORTES NO ORÇAMENTO DA UNIÃO
O financiamento do bolsa caminhoneiro será compensado também com cortes no orçamento da União deste ano. Cerca de R$ 5,7 billhões virão de uma reserva orçamentária (recursos que não tinham destino certo). Esses recursos não estavam destinados para gastos anteriormente porque estavam acima do teto de gastos (regra que limita as despesas à variação da inflação do ano anterior).
O corte de despesas foi de R$ 3,38 bilhões, segundo o Ministério do Planejamento. Cortes também atingirão o Programa de Reforma Agrária, com R$ 30,77 milhões, e o Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação, com outros R$ 21,75 milhões.
Também tiveram recursos cancelados programas nas áreas de saúde, como para aprimoramento do Sistema Único de Saúde (SUS); educação, incluindo bolsa para universidades; saneamento básico (especialmente em comunidades ribeirinhas); e moradia popular.
Foram reduzidos recursos para programas como prevenção e repressão ao tráfico de drogas (R$ 4,1 milhões), concessão de bolsas de um programa de estímulo ao fortalecimento de instituições de ensino superior (R$ 55,1 milhões), policiamento ostensivo e rodovias e estradas federais (R$ 1,5 milhões) e fortalecimento do sistema único de saúde, com R$ 135 milhões.
Ao mesmo tempo, foram criados recursos para o programa "operações de garantia da lei e da ordem", com o objetivo de desobstruir estradas, no valor de R$ 80 milhões.
INDÚSTRIA SE QUEIXA
As principais entidades que representam as indústrias reagiram às medidas para pagar a conta do bolsa caminhoneiro. Para a Confederação Nacional da Indústria (CNI) e a Abiquim, as novas medidas do governo comprometerão o crescimento das exportações brasileiras, reduzirão a competitividade da indústria nacional e aumento de preços para consumidores.